Conheça a história de São Paulo contada por meio das praças esportivas que não existem mais

concorrência foi extraordinária, podendo-se calcular em quatro mil pessoas que enthusiasticamente não se cançaram de aplaudir os temíveis jogadores. As gentis senhoritas, que davam à festa máximo encanto, mostravam-se visivelmente commovidas quando a bola se aproximava de qualquer gol. As elegantes arquibancadas tremiam sob o barulho dos inúmeros espectadores”.

Da grafia das palavras ao estilo de se torcer, as linhas acima, extraídas de texto publicado em 27 de outubro de 1902, pelo jornal paulistano O Estado de S. Paulo, desenham o retrato de um futebol que virou história. E acabou sem deixar símbolos e monumentos para contar a história.

As “elegantes arquibancadas de madeira” citadas pertenciam ao estádio do Velódromo, que ficava localizado no bairro da Consolação e — apesar do nome fazer referência ao ciclismo — foi o palco maior do futebol paulista em seus primórdios.

O primeiro estádio do Brasil, porém, não existe há muitos anos. Foi demolido nos anos 1910 para abrir espaço para a criação da Rua Nestor Pestana, cumprindo o plano de expansão urbana do começo do século XX da cidade de São Paulo, que vivia processo de vertiginoso crescimento demográfico, populacional e econômico.

Nos primeiros 20 anos do século passado, a população da capital paulista cresceu 141%, de 239.820 para 579.033 mil habitantes, de acordo com dados da Prefeitura de São Paulo. Rapidamente, graças ao boom da indústria cafeeira, a cidade, antes uma vila pacata, virou terra de caçadores de oportunidade e imigrantes em busca de chances melhores.

O crescimento intenso da antes Vila de São Paulo impactou na arquitetura da cidade — hoje com mais de 11 milhões de habitantes –, causando a construção, destruição e reconstrução constantes de avenidas e edifícios que, ano após ano, redefiniram a cidade.

As praças esportivas, entre outras construções históricas, sofreram o impacto desse crescimento. Dos vários estádios construídos na cidade antes de 1940 — ano da inauguração do Pacaembu –, apenas a Rua Javari, no bicentenário bairro da Mooca, segue intacto. Todos os outros foram demolidos e muitos deles acabaram esquecidos totalmente.

Hipódromo da Mooca

Antes de o futebol chegar ao Brasil, São Paulo — que seria berço da modalidade no país, em 1894 — já tinha sua vida esportiva. As corridas, de cavalo, primeiro, e, depois, de bicicleta, faziam então a cabeça dos aficionados por esporte.

Em 1876, foi inaugurado na Rua Bresser o Hipódromo da Mooca, de propriedade do Jockey Club de São Paulo, que na época chamava-se Club de Corridas Paulistano e havia sido fundado no ano anterior.

Uma pequena nota publicada em A Província de S. Paulo (nome original de O Estado de São Paulo) anunciava, em 14 de março de 1875, a fundação do clube: “Consta-se que vae fundar-se nesta capital um club, que destina a preparar um lugar apropriado para corridas, etc. (sic)”.

A Corte Imperial, que autorizara o funcionamento do Club de Corridas Paulistano, decidiu construir o hipódromo no pé de um sopé no bairro da Mooca. O local era, na época, pouco habitado e havia até um centro de criação de cavalos nas redondezas. As cocheiras ficavam na antiga Rua Itajaí. E o Hipódromo compreendia as ruas Bresser e Arthur Mota, atualmente a Avenida Radial Leste.

A denominação Jockey Club de São Paulo surgiu 20 anos após a fundação, em 1895. A Mooca, então uma várzea enorme, se destacava no cenário urbano pela presença das linhas férreas da São Paulo Railway — multinacional inglesa responsável pelo desenvolvimento férreo na cidade. Porém, com o rápido crescimento da população, o hipódromo ficou pequeno. Seus 2.800 lugares não comportavam mais o grande número de frequentadores.

A solução encontrada foi a mudança para a várzea do rio Pinheiros e, em 1936, começaram as obras para a construção do novo hipódromo, que demorou cinco anos para ficar pronto. No dia 25 de janeiro de 1941, foi inaugurada a atual sede do Hipódromo Paulistano, na Cidade Jardim, às margens do Rio Pinheiros.

A nova sede do Jockey Club foi concebida pelo então prefeito de São Paulo, Fábio da Silva Prado, que, além de mandatário da cidade, tinha íntima ligação com as raízes do Jockey Club (ou, como era chamado no início, Club de Corridas).

O conselheiro Antônio da Silva Prado, tio de Fábio e primeiro prefeito de São Paulo — 1899 a 1911 -, fora um dos idealizadores do clube, ao lado de Raphael Aguiar Paes de Barros. Ambos representavam o que mais tarde seria denominada Elite Quatrocentona, classificação dada aos membros das famílias mais tradicionais da São Paulo (supostamente por estas estarem presentes em São Paulo desde sua fundação, em 1554).

O Velódromo dos Prado

Dezesseis anos depois da chegada do hipódromo, foi inaugurado na capital o Velódromo Paulista: a segunda grande praça esportiva paulistana que, como a primeira, nasceu pela iniciativa da Família Prado.

O Velódromo Paulistano foi construído pelo Conselheiro Antônio Prado, a pedido de seu filho Antônio Prado Filho, que, aos 12 anos, voltava da Europa e trazia consigo a paixão pelo ciclismo. Outra entusiasta do ciclismo era dona eridiana Prado, mãe do conselheiro e uma das mulheres mais ricas daqueles tempos, proprietária de grande partes das terras dos bairros de Santa Cecília, Higienópolis, Consolação e República.

Erguido nos jardins de um dos palacetes de Dona Veridiana, o Velódromo foi inaugurado em 1892, após dois anos de construção, e marcou época na cidade. Foi sede das primeiras corridas de bicicleta e, posteriormente, das principais partidas do futebol, como a decisão do primeiro Campeonato Paulista.

Nos primeiros anos, a praça esportiva pertenceu à família Prado e serviu apenas para o ciclismo. A partir de 1901, após a fundação do Clube Atlético Paulistano, o Velódromo foi alugado e passou a ser administrado pelo hoje centenário clube, cujo nascimento também foi uma iniciativa dos Prado (veja mais no decorrer da reportagem).

Se ainda existisse, o Velódromo estaria localizado ao lado da Praça Roosevelt, onde hoje existe, entre outros imóveis, o Teatro Cultura Artística. Na época, o estádio ficava localizado entre as ruas Martinho Prado (nome em homenagem ao pai do conselheiro Antônio Prado e marido de dona Veridiana) e Florisbela, atualmente extinta.

Várzea: começo do futebol

“A cidade de São Paulo tem aparência europeia, como você pode ver pelas diversas fotos que estou enviando. Ônibus e bondes elétricos transitam desde a cidade até os subúrbios, a umas seis milhas (10 km) ou mais. A energia elétrica é fornecida por uma grande represa a 15 milhas (24 km) da cidade e quase todas as fabricas operam com eletricidade, desta mesma represa. As ruas centrais da cidade são pavimentadas com paralelepípedos de madeira. O clima é muito parecido com a Inglaterra, muda muito. Por exemplo, deveria estar quente agora, sendo meados de verão, mas semana passada os termômetros não passaram de 78°F (25°C) (sic)”.

Assim o brasileiro Charles Miller, em 1906, em carta endereçada à sua escola, a Banister Court Public School, em Southampton, Inglaterra — descreve a efervescente São Paulo do começo do século 20, terra em que — surfando na onda do sucesso do café — tudo prosperava.

Inclusive o jogo de futebol, que havia sido introduzido pelo próprio Miller, a partir de 1894, quando, aos 20 anos, retornou ao Brasil, depois de passar uma década estudando na Europa.

De volta ao país, Miller — filho do engenheiro escocês John Miller e da brasileira (filha de ingleses) Carlota Alexandrina Fox — catequizou seus colegas da colônia inglesa, que trabalhavam em multinacionais do império da rainha Vitória que haviam se instalado na capital paulista (como a São Paulo Railway e São Paulo Gas Company) e frequentavam o São Paulo Athletic Club (SPAC), clube fundado em 1888, para reunir e congraçar os milhares de súditos da rainha vivendo no país naquele momento.

Os jovens ingleses foram os primeiros futebolistas do Brasil e nas margens do Rio Tamanduateí fez-se o primeiro campo. Se o Hipódromo e Velódromo (que só recebeu futebol a partir de 1901) foram as primeira praças esportivas do Brasil, a Várzea do Carmo foi a primeiro campo do futebol.

Templo amador, a Várzea do Carmo não existe mais. A região era batizada Várzea, por conta das cheias do Rio Tietê, e do Carmo, por conta da Igreja dos Carmelitas, hoje Igreja do Carmo, que também nomeava a ladeira e a ponte no final dela, trecho hoje conhecido como Avenida Rangel Pestana.

Esse primeiro templo do futebol corresponde atualmente à região do Parque Dom Pedro. Lá não havia arquibancadas para os torcedores e quase não havia estrutura para o jogo em si, mas, o lugar, que inundava quando das cheias do rio, viu o nascedouro do futebol com Charles Miller e, doravante, quando o futebol já se popularizara na elite, veria surgimento de muitas equipes de Várzea, representantes do que se convencionou chamar de “pequeno futebol”, que consistia no futebol praticado à margem da liga principal, formada por clubes de elite. Ao longo dos anos, muitas equipes brilharam no futebol de Várzea, mas poucas seguiram em frente. Entre as que deram certo, destaque para Sport Club Corinthians Paulista, fundado em 1910, no bairro operário do Bom Retiro.

Chácara dos ingleses: casa dos esportes

Se a Várzea do Carmo foi berço do futebol e templo do “pequeno futebol”. A Chacara Dulley, propriedade das famílias Fox e Dulley, exerceu o mesmo papel no esporte amador das elites paulistanas. O local se localizava na região da Rua Três Rios, ao lado do Jardim da Luz, no bairro do Bom Retiro, onde hoje se localiza Faculdade de Tecnologia de São Paulo (Fatec).

Mesmo antes do advento do futebol, jovens do SPAC tinham o hábito de praticar críquete nos campos da Chácara. Com a chegada de Miller e a febre de futebol que tomou conta da cidade, os treinos de críquete deram lugar aos treinos e jogos do novo esporte britânico. O SPAC foi o primeiro clube a fazer da Chacara sua casa. Mas os ingleses não foram os únicos.

A partir de 1898, os jogadores o Mackenzie College Athletic Association — comunidade esportiva fundada em agosto daquele ano com os alunos da escola homônima — começaram a treinar e jogar no local.

As primeiras partidas de futebol entre clubes ou associações minimamente organizadas aconteceram na Chacara Dulley, entre SPAC, Mackenzie e o Hans Nobiling Team, equipe liderada pelo imigrante alemão Hans Nobiling.

Em depoimento publicado no livro A História do Futebol Brasileiro, escrito em 1950, pelo jornalista Thomaz Mazzoni, Nobiling lembra os primórdios do futebol paulista no campo do bom retiro:

“Comecei a recrutar companheiros, uns aqui, outros acolá, e, um dia, auxiliado por (René) Vanordem, que me trouxe vários ex-alunos do Mackenzie, resolvemos iniciar nossa primeira prática. Obtivemos licença para fazê-lo pelas manhãs, na Chacara Dulley, onde também nos exercitávamos nas noites de luar, entre 20 e 22 horas. Logo que nos consideramos habilitados, desafiamos o Mackenzie, com o qual empatamos a 05 de março de 1899, primeira partida de futebol entre brasileiros realizada na Paulicéia. O resultado foi 0 a 0. Mas, aquela partida não me satisfez. Com novos elementos, completamos o quadro que a 21 de abril de 1899 vencia o Mackenzie por 1 a 0, em partida “revanche”. No mês seguinte, dia 3, voltamos a empatar com o Mackenzie. Animados com o este resultado, desafiamos os ingleses, contra os quais jogamos a 29 de junho de 1899, na Consolação, na presença da primeira assistência que compareceu a um campo de futebol: 60 pessoas. E o resultado foi de 1 a 0, para os ingleses, cuja “equipe” já possuía elementos da envergadura de Boys, Miller e Robinson.”

Mais tarde, Nobiling fundaria também seu próprio clube. Primeiro, o alemão, que chegou ao Brasil em 1897, depois de disputar a liga alemã pelo Germania Sports Club, participou da fundação, em 19 de agosto de 1899, do Sport Clube Internacional, mas não ficou lá por muito tempo. Na ocasião, Nobiling queria que a equipe fosse batizada Germânia, em homenagem a seu time na Europa. O alemão, então, deixou o Internacional para fundar, 19 dias depois, o Sport Club Germânia — clube, que anos mais tarde, em 1942, seria rebatizado Sport Clube Pinheiros, por conta do conflito entre Brasil e Alemanha, na Segunda Guerra Mundial.

Em 1899, o SPAC arrendou, inicialmente por 10 anos, um térreo de dona Veridiana Prado, localizado no começo da Rua da Consolação, na Rua Visconde de Ouro Preto, a algumas centenas de metros do Mackenzie College. O terreno, que até hoje é sede do clube inglês, foi aplainado e deu lugar ao campo de futebol e a sede social do SPAC, que, a partir de então, deixaria a Chacara Dulley.

Com a saída dos ingleses, a Chácara Dulley virou campo de jogos e treinamentos do Mackenzie, Internacional e Germânia.

Nessa época, a Chácara Dulley, mesmo sem o SPAC, se estabelecia como cenário protagonista do futebol de São Paulo. Em outro depoimento publicado no livro A História do Futebol Brasileiro, de Thomaz Mazzoni, Nobiling descreve em detalhes a estrutura desse campo pioneiro do futebol nacional, e destaca o vestiário (chamado no texto de pavilhão), construído em 1899.

“Logo após sua fundação, o clube estava em condições de praticar esportes, isso devido à gentileza da Família Dulley, que cedeu sua chácara situada no Bom Retiro, nas vizinhanças do Jardim da Luz. Não tinha tantos buracos, e não estava sujeito às invasões indébitas das aguas do rio. Construiu-se um pavilhão, sem luxo é claro, onde os sócios de vestiam (sic).”

Em 1903, a família Dulley vendeu parte da chácara para uma comunidade de freiras salesianas, que montaram o Colégio Santa Inês, que segue ativo no local. Com a venda, o Internacional passou a treinar em outro terreno, a Chacara Witte, localizada nas também proximidades da Luz, no bairro do Bom Retiro.

Grandes jogos

No final de 1900, último ano do século 19, o futebol se consolidava como febre entre os jovens da elite de São Paulo, que, através da formação de clubes, começavam a se fazer representados no cenário dos clubes.

Primeiro veio o SPAC, representando os ingleses; depois o Mackenzie, de origem americana, seguidos, pelo Internacional, que congraçava representante de várias nacionalidades (brasileiros inclusive) e o Germânia, grêmio dos alemães. Faltava, porém, um clube para representar a elite de jovens com ascendência paulistana.

Os quatrocentões ganharam, finalmente, representatividade, em 29 de dezembro de 1900, quando 40 jovens, liderados por Martinho e Antonio Prado Jr, fundaram o Clube Athletico Paulistano.

O Paulistano, dado ao perfil socioeconômico de seus fundadores, já nasceu rico e com um estádio para praticar o futebol. Após solicitação de seus netos, Martinho e Antônio, dona Veridiana — oito anos depois de ceder parte de seu terreno para construir o Velódromo — concordou em erguer uma arquibancada, adaptar um campo de futebol e alugar o Velódromo para o clube recém-fundado por seus netos.

Assim nascia o primeiro grande estádio propriamente dito da história do futebol. Antes palco de provas de ciclismo, o Velódromo dava, finalmente, lugar ao futebol, a partir de 18 de outubro de 1901. Um ano depois, seria inaugurado, no bairro da Água Branca, o estádio do Parque Antártica, pertencente à Companhia Antártica Paulista.

O Parque Antártica, que já existia desde o final do século 19, antes de se tornar um estádio, era um espaço de lazer (300 mil metros quadrados) para seus funcionários, construído próximo à fábrica da companhia, que continha uma vasta área verde (com um pequeno lago bosque), parque infantil, restaurantes, choperia e áreas para a prática esportiva (incluindo quadra de tênis, pistas de atletismo e o campo de futebol).

A partir de 1902, com a realização do primeiro Campeonato Paulista, o Germânia passou a alugar o local e utilizar o espaço como campo de jogo.

Em 1º de maio de 1901, o Parque Antártica sediou a primeira partida do Campeonato Paulista de todos os tempos, que terminou com vitória por 2 a 1 do Germânia sobre o Mackenzie.

O campeonato Paulista daquele ano contou com cinco times (SPAC, Paulistano, Germânia, Internacional e Mackenzie) e foi disputado em três campos. Além do Parque Antártica e do Velódromo, o campo do SPAC foi um dos palcos do certame.

Evolução e popularização

O boom do futebol em São Paulo não demorou a romper as barreiras sociais. Menos de 10 anos depois da estreia do esporte no país — na histórica partida entre os funcionários da São Paulo Railway e da São Paulo Gas Company — o esporte já havia sido disseminado no meio da classe trabalhadora.

Os operários adoravam bater uma bola e o faziam quase sempre na Várzea do Carmo, região nas margens do rio Tamanduateí (onde hoje se localiza o Parque Dom Pedro) e na época ainda intocada pela urbanização que tomava a cidade de assalto desde o final do século 19.

A classe trabalhadora jogava se divertia e era representada por equipes o que era conhecido como “pequeno futebol”, já que as mesmas ainda não eram aceitas no Liga Paulista de Futebol e, consequentemente, no campeonato estadual.

Aos poucos, porém, futebol em São Paulo mudou de cara e de cenário. A partir dos anos 10, os populares, representados por agremiações como Ipiranga e Corinthians, ganharam espaço, em detrimento dos defensores do futebol elitista. Pouco a pouco, os pioneiros abdicaram do esporte competitivo. O SPAC foi o primeiro a deixar a Liga, em 1913, contrariado com o profissionalismo que “ameaçava” as competições. Paulistano, Mackenzie, Germânia e Internacional, por várias razões, também sairiam de cena mais cedo ou mais tarde.

Com novos atores, vieram novos estádios. O Velódromo, por conta da urbanização da cidade foi extinto em 1915, o campo do SPAC foi aposentado depois que o clube deixou a o Campeonato Paulista, em 1913. Dos três primeiros estádios, só o Parque Antártica seguiu em uso ao longo do nos 1910.

Outros estádios porém, surgiriam na capital. Um dos primeiros foi o novo campo do Paulistano. Antes de abandonar o futebol em 1929, o clube trocou Velódromo pelo estádio do Jardim América, com capacidade de 15 mil espectadores. Não uma troca voluntária, que fique claro. Com a demolição do Velódromo, o clube se viu perto de fechar as portas no final de 1915, quando sobrevivia pelas mãos 24 sócios. De qualquer maneira, depois de tempos difíceis, o time da elite paulistana seguiu em frente e inaugurou, em dezembro de 1917, sede e campo novos no Jardim América, então uma terra inóspita e distante.

O segundo campo do Paulistano era localizado onde hoje está a sede social do tradicional clube, entre as ruas Estados Unidos, Colômbia, Honduras e Argentina. Com o fim do Velódromo, o Paulistano deu iniciou a uma fase nova em sua história. Mais que um marco para o clube, a demolição do primeiro estádio do Brasil pôs fim a uma era. A era do futebol aristocrático. O futebol como força popular ganhava espaço.

Assim começava a nascer o esporte que conhecemos hoje, essencialmente popular e não discriminatório. Desses primeiros anos, ficaram lembranças e a memória registrada em arquivos de jornais antigos. Os primeiros tempos, porém, passaram e, assim como seus templos, viraram história. Literalmente, poeira no tempo.